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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como estão as nascentes do Pq. dos Búfalos (SP)?


  Esta postagem tem como objetivo analisar as condições de preservação hídrica e ambiental da área referente ao Parque dos Búfalos, localizado na Subprefeitura e Cidade Ademar, município de São Paulo, SP, diagnosticando a adequação do nível de proteção das nascentes. 

Figura 1: Localização das nascentes do Parque dos Búfalos. Fonte: ROCHA, 2015.

 Metodologicamente, foram realizadas sucessivas campanhas de campo (15/03, 17/03, 11/04 e 21/04 de 2015) para localização das nascentes no interior do Parque. Em concomitância, foi levantada uma matriz de características ambientais macroscópicas das nascentes, que possibilitou a exploração de um índice de qualidade ambiental.

Durante as campanhas foram levantados os dados primários, a partir de procedimentos de campo. A caracterização geográfica das nascentes em função dos elementos do quadro ambiental que as constituem foi realizada, permitindo, ademais, a espacialização a partir da identificação em campo. Além de ampliar as possibilidades de estudo, esses procedimentos permitem uma análise das especificidades existentes em cada nascente.

Verificou-se o grau de proteção em que as nascentes se encontram. Para tanto, utilizou-se uma adaptação do Índice de Impacto Ambiental Macroscópico (IIAM) para nascentes, apresentado por Gomes et al, 2005. A técnica consiste na avaliação sensorial (macroscópica) e comparativa de alguns elementos-chave na identificação de impactos ambientais e suas consequências sobre a qualidade das nascentes.

Parâmetro Macroscópico
Qualificação
 Ruim (1)
Médio (2)
Bom (3)
 Cor da água
escura
clara
transparente
Odor forte
odor forte
com odor
não há
Lixo do redor
muito
pouco
não há
Materiais flutuantes
(lixo na água)
muito
pouco
não há
Espuma
muito
pouco
não há
Óleos
muito
pouco
não há
Esgoto
visível
provável
não há
Vegetação
degradada ou ausente
alterada
bom estado
Uso por animais
constante
esporádico
não há
Uso por humanos
constante
esporádico
não há
Acesso
fácil
difícil
sem acesso
Proximidade com residências ou estabelecimentos
menos de 50 metros
entre 50 e 100m
mais de 100m
 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Quadro 1: Metodologia do Índice de Impacto Ambiental Macroscópico para Nascentes –    
                                            Grau de Preservação.                                                 

                                       

CLASSE
Grau de Preservação
Pontuação Final
A
Ótimo
34 - 36
B
Bom
31 - 33
C
Razoável
27 - 30
D
Ruim
24 - 26
E
Péssimo
Abaixo de 24


         




  

 Quadro 2: Classificação das nascentes quanto ao Grau de Preservação.


          Os doze parâmetros escolhidos para avaliação são qualificados de acordo com o QUADRO 1. À classe definida (bom, médio ou ruim) atribui-se um valor. O somatório dos valores creditados a cada parâmetro consiste no índice. Como não há pesos, o máximo valor do índice neste trabalho é 36 (quando todos os parâmetros são considerados “bons”) e o mínimo 12 (quando todos os parâmetros são considerados “ruins”). Por fim, o QUADRO 2 apresenta a interpretação desses valores.  


Ao total foram localizadas 18 nascentes e uma evidência de nascente, porém sem exfiltração (Nascente 19). O mapa georreferenciado a partir de imagem orbital mostra a localização de cada uma das nascentes.(Figura 1)

Nascente
Exfiltração
Duração do fluxo
Grau de Preservação
1
Pontual
Intermitente ou efêmera
Razoável
2
Difusa
Perene
Razoável
3
Difusa
Perene
Razoável
4
Pontual
Perene
Péssimo
5
Difusa
Perene
Péssimo
6
Difusa
Perene
Péssimo
7
Difusa
Perene
Razoável
8
Pontual
Perene
Razoável
9
Difusa
Perene
Ruim
10
Pontual
Perene
Bom
11
Pontual
Perene
Bom
12
Difusa
Perene
Ruim
13
Pontual
Perene
Ruim
14
Pontual
Perene
Razoável
15
Difusa
Perene
Péssimo
16
Pontual
Perene
Razoável
17
Difusa
Perene
Razoável
18
Pontual
Perene
Bom
19
-
Intermitente ou efêmera
Péssimo
                                     Quadro 3: Classificação Hidroambiental das nascentes.


Em relação às características hidrológicas das nascentes que estavam exfiltrando durante as campanhas, 44,4% das nascentes são de exfiltação pontual, enquanto 55,6% são de exfiltração difusa.
Já em relação à sazonalidade do fluxo (duração do fluxo), 89,47% são perenes, ou seja, exfiltram durante o ano todo, enquanto apenas 10,53% são intermitentes ou efêmeras, necessitando de um estudo prolongado para uma classificação precisa. A nascente 1, que ocorre numa valeta de escoamento, não está mapeada pela prefeitura, o que talvez indique sua efemeridade ao longo dos anos. Já a nascente 19 não estava exfiltrando durante as campanhas, mas há evidências de sua ocorrência, o que se observa por um encharcamento no local mapeado pela prefeitura, podendo deduzir que se trata se uma nascente intermitente.
O grau de preservação apresenta dados alarmantes. Não há nascentes classificadas como A (Ótima em grau de preservação), e 42,11% delas estão classificadas em D e E (Ruim e Péssima em grau de preservação). Apenas 15,79% das nascentes do Parque dos Búfalos encontram-se em Bom estado de preservação (Classe B) e 42,11% estão em estado Razoável de preservação (Classe C).
Dentre os onze parâmetros macroscópicos analisados, os que obtiveram as piores pontuações foram o acesso, uso por animais e vegetação. O Acesso é fácil em 10 (52,63%) nascentes da área estudada, o que facilita intervenções negativas como o parâmetro Uso de animais, que foi constante em 8 (42,11%) nascentes. O principal fator que facilita o acesso, e portanto o uso por animais às nascentes, é a ausência, degradação ou alteração da vegetação, que ocorre em 17 (89,47%) nascentes das 19 encontradas.
        Por outro lado, os parâmetros que merecem destaque pelas maiores pontuações foram proximidade com residências ou estabelecimentos, espuma, e uso por humanos. Das 19 nascentes estudadas, 15 (78,85%) se encontram com mais 100 metros de distância de residências e estabelecimentos, 14 (77,78%) não possuíam espuma em suas águas e 12 (63,16%) não eram usadas por humanos.  

 
Dada à crise hídrica por que passa o estado de São Paulo, somada à crescente degradação da área metropolitana da capital, tanto pela contaminação das águas e solos, quanto pelo desmatamento de seus fragmentos restantes, foi possível verificar que a área em estudo é de enorme importância ambiental, onde ocorrem muitas nascentes d’água. Nascentes d’água estas que são fundamentais para a manutenção e preservação do maior manancial da cidade de São Paulo, que se encontra com péssima qualidade da água, sendo importantíssima a presença de vegetação em sua margem para a sua resiliência e recarga hídrica.