Esta postagem tem como objetivo analisar as condições de preservação hídrica e
ambiental da área referente ao Parque dos Búfalos, localizado na Subprefeitura
e Cidade Ademar, município de São Paulo, SP, diagnosticando a adequação do nível de
proteção das nascentes.
Figura 1: Localização das nascentes do Parque dos Búfalos. Fonte: ROCHA, 2015. |
Metodologicamente,
foram realizadas sucessivas campanhas de campo (15/03, 17/03, 11/04 e 21/04 de 2015) para
localização das nascentes no interior do Parque. Em concomitância, foi
levantada uma matriz de características ambientais macroscópicas das nascentes,
que possibilitou a exploração de um índice de qualidade ambiental.
Durante as campanhas foram levantados os dados
primários, a partir de procedimentos de campo. A caracterização geográfica das
nascentes em função dos elementos do quadro ambiental que as constituem foi
realizada, permitindo, ademais, a espacialização a partir da identificação em
campo. Além de ampliar as possibilidades de estudo, esses procedimentos
permitem uma análise das especificidades existentes em cada nascente.
Verificou-se o grau de proteção em
que as nascentes se encontram. Para tanto, utilizou-se uma adaptação do Índice
de Impacto Ambiental Macroscópico (IIAM) para nascentes, apresentado por Gomes
et al, 2005. A técnica consiste na avaliação sensorial (macroscópica) e
comparativa de alguns elementos-chave na identificação de impactos ambientais e
suas consequências sobre a qualidade das nascentes.
Parâmetro
Macroscópico
|
Qualificação
|
||
Ruim (1)
|
Médio
(2)
|
Bom
(3)
|
|
Cor da água
|
escura
|
clara
|
transparente
|
Odor forte
|
odor
forte
|
com
odor
|
não
há
|
Lixo do redor
|
muito
|
pouco
|
não
há
|
Materiais flutuantes
(lixo na água) |
muito
|
pouco
|
não
há
|
Espuma
|
muito
|
pouco
|
não
há
|
Óleos
|
muito
|
pouco
|
não
há
|
Esgoto
|
visível
|
provável
|
não
há
|
Vegetação
|
degradada
ou ausente
|
alterada
|
bom
estado
|
Uso por animais
|
constante
|
esporádico
|
não
há
|
Uso por humanos
|
constante
|
esporádico
|
não
há
|
Acesso
|
fácil
|
difícil
|
sem
acesso
|
Proximidade com residências ou
estabelecimentos
|
menos
de 50 metros
|
entre
50 e 100m
|
mais
de 100m
|
Grau de Preservação.
CLASSE
|
Grau
de Preservação
|
Pontuação
Final
|
A
|
Ótimo
|
34
- 36
|
B
|
Bom
|
31
- 33
|
C
|
Razoável
|
27
- 30
|
D
|
Ruim
|
24
- 26
|
E
|
Péssimo
|
Abaixo
de 24
|
Quadro 2: Classificação das nascentes quanto ao Grau de Preservação.
Os doze parâmetros escolhidos para avaliação são qualificados de acordo com o QUADRO 1. À classe definida (bom, médio ou ruim) atribui-se um valor. O somatório dos valores creditados a cada parâmetro consiste no índice. Como não há pesos, o máximo valor do índice neste trabalho é 36 (quando todos os parâmetros são considerados “bons”) e o mínimo 12 (quando todos os parâmetros são considerados “ruins”). Por fim, o QUADRO 2 apresenta a interpretação desses valores.
Ao total
foram localizadas 18 nascentes e uma evidência de nascente, porém sem exfiltração
(Nascente 19). O mapa georreferenciado a partir de imagem orbital mostra a
localização de cada uma das nascentes.(Figura 1)
Nascente
|
Exfiltração
|
Duração
do fluxo
|
Grau
de Preservação
|
1
|
Pontual
|
Intermitente
ou efêmera
|
Razoável
|
2
|
Difusa
|
Perene
|
Razoável
|
3
|
Difusa
|
Perene
|
Razoável
|
4
|
Pontual
|
Perene
|
Péssimo
|
5
|
Difusa
|
Perene
|
Péssimo
|
6
|
Difusa
|
Perene
|
Péssimo
|
7
|
Difusa
|
Perene
|
Razoável
|
8
|
Pontual
|
Perene
|
Razoável
|
9
|
Difusa
|
Perene
|
Ruim
|
10
|
Pontual
|
Perene
|
Bom
|
11
|
Pontual
|
Perene
|
Bom
|
12
|
Difusa
|
Perene
|
Ruim
|
13
|
Pontual
|
Perene
|
Ruim
|
14
|
Pontual
|
Perene
|
Razoável
|
15
|
Difusa
|
Perene
|
Péssimo
|
16
|
Pontual
|
Perene
|
Razoável
|
17
|
Difusa
|
Perene
|
Razoável
|
18
|
Pontual
|
Perene
|
Bom
|
19
|
-
|
Intermitente
ou efêmera
|
Péssimo
|
Em
relação às características hidrológicas das nascentes que estavam exfiltrando
durante as campanhas, 44,4% das nascentes são de exfiltação pontual, enquanto
55,6% são de exfiltração difusa.
Já em
relação à sazonalidade do fluxo (duração do fluxo), 89,47% são perenes, ou
seja, exfiltram durante o ano todo, enquanto apenas 10,53% são intermitentes ou
efêmeras, necessitando de um estudo prolongado para uma classificação precisa.
A nascente 1, que ocorre numa valeta de escoamento, não está mapeada pela
prefeitura, o que talvez indique sua efemeridade ao longo dos anos. Já a
nascente 19 não estava exfiltrando durante as campanhas, mas há evidências de
sua ocorrência, o que se observa por um encharcamento no local mapeado pela
prefeitura, podendo deduzir que se trata se uma nascente intermitente.
O grau
de preservação apresenta dados alarmantes. Não há nascentes classificadas como
A (Ótima em grau de preservação), e 42,11% delas estão classificadas em D e E
(Ruim e Péssima em grau de preservação). Apenas 15,79% das nascentes do Parque
dos Búfalos encontram-se em Bom estado de preservação (Classe B) e 42,11% estão
em estado Razoável de preservação (Classe C).
Dentre
os onze parâmetros macroscópicos analisados, os que obtiveram as piores
pontuações foram o acesso, uso por animais e vegetação. O Acesso é fácil em 10
(52,63%) nascentes da área estudada, o que facilita intervenções negativas como
o parâmetro Uso de animais, que foi constante em 8 (42,11%) nascentes. O
principal fator que facilita o acesso, e portanto o uso por animais às
nascentes, é a ausência, degradação ou alteração da vegetação, que ocorre em 17
(89,47%) nascentes das 19 encontradas.
Por
outro lado, os parâmetros que merecem destaque pelas maiores pontuações foram
proximidade com residências ou estabelecimentos, espuma, e uso por humanos. Das
19 nascentes estudadas, 15 (78,85%) se encontram com mais 100 metros de
distância de residências e estabelecimentos, 14 (77,78%) não possuíam espuma em
suas águas e 12 (63,16%) não eram usadas por humanos.
Dada à crise hídrica por que passa o
estado de São Paulo, somada à crescente degradação da área metropolitana da
capital, tanto pela contaminação das águas e solos, quanto pelo desmatamento de
seus fragmentos restantes, foi possível verificar que a área em estudo é de
enorme importância ambiental, onde ocorrem muitas nascentes d’água.
Nascentes d’água estas que são fundamentais para a manutenção e preservação do
maior manancial da cidade de São Paulo, que se encontra com péssima qualidade
da água, sendo importantíssima a presença de vegetação em sua margem para a sua
resiliência e recarga hídrica.